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Carta aberta a Luís Aleluia já é viral

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Luís Aleluia morreu na passada sexta-feira, 23 de junho, para desilusão nacional. Todo o país conhecia o ‘menino Tonecas’, uma personagem marcante deste famoso ator, mas muito longínqua do homem que ele era.

Quem o diz é quem o conhece melhor. Como por exemplo, o jornalista Luís Osório. Esta terça-feira, o ‘Postal do Dia’ do conhecido jornalista é sobre Luís Aleluia e já conta com centenas de partilhas.

Os portugueses reconhecem e sentem cada uma das palavras, nesta carta aberta, que é uma lição para todos:

“Luís Aleluia, desculpa por nunca termos deixado de ver o Tonecas quando te olhávamos

1.

Muito já foi dito e nada foi dito.

O país despediu-se de um homem que admirava embora só o tenhamos percebido após a trágica notícia.

Não tem mal e não é uma crítica e ainda menos a constatação de uma qualquer hipocrisia. Há pessoas assim, figuras que nos acompanham e que só depois de nos faltarem percebemos o quanto eram importantes.

O Luís Aleluia está nesse grupo.

2.

Pelas fotografias que fomos vendo.

Pelos bocadinhos que nos ofereceu, sempre equilibrado numa comédia de sorriso triste que agora nos parece evidente.

Mas antes não.

Antes aquilo que o distinguia, que na verdade distingue os grandes humoristas, era até a prova de que lhe faltava qualquer coisa para se cumprir como ator ou comediante.

Havia qualquer coisa que destoava.

Recebemos o Tonecas ou o simpático GNR de Beirais com gargalhadas e simpatia, mas havia um sorriso de palhaço triste, de alguém que passeava uma sombra que escondia com os olhos de criança grande.

3.

Um dia alguém fará a sua história como ator.

Mas por estas horas tenho pensado noutra coisa.

É que o Luís abraçava os que lhe agradeciam na rua, gostava de gostar das pessoas comuns.

O Luís que na infância foi espancado e humilhado por um padrasto, uma violência constante que lhe matou a possibilidade de ser criança e que obrigou à sua institucionalização na Casa do Gaiato.

A maioria das pessoas que são violentadas ficam de pé atrás com os outros. Viciam-se no desamor, mas o Luís nunca pareceu de pé atrás com os outros, sabemos isso sim que talvez nunca se tenha reconciliado com a vida.

Entre os 10 e os 16 anos viveu num colégio interno para miúdos como ele. Começou a fazer teatro e a fazer rir e fazer rir tornou-se a sua mais eficaz arma de proteção contra o mal, contra o ódio, contra o que sofreu.

Saiu da Casa do Gaiato e nunca deixou de ajudar os meninos que foram como ele, que passaram o que ele passou.

4.

Em cada companhia de teatro, em cada espetáculo, em cada programa de televisão não há ninguém que diga mal do Luís Aleluia, um homem sempre disponível para ajudar, sempre disponível para ouvir, sempre a viver em função dos outros.

Teve sucesso e este nunca lhe subiu à cabeça. Pelo contrário, cada sucesso aumentava a sua dádiva aos amigos, aos conhecidos, aos que se cruzavam com ele em cada esquina.

E pertencia à direção da Casa do Artista.

Ia várias vezes fazer o que fosse preciso. Ouvir os velhos atores e as velhas atrizes, estar, trabalhar para que tivessem a dignidade que mereciam.

E depois tinha dois filhos que adotou.

Ele e a sua mulher Zita, o amor de sempre, a pessoa que escolheu para construir uma vida.

Sem vinganças, sem maldade, sem sombras.

Os dois, mais os dois rapazes que adotaram.

Os filhos inconsoláveis que juraram ao pai que iriam fazer tudo para que ele um dia tivesse orgulho. Os dois de lágrimas nos olhos e felizes ainda assim por terem tido a possibilidade de ter um pai que era bom e de quem toda a gente gostava.

5.

Sabes, é isso que me perturba sempre.

Esta ideia de que quem abraça precisa de ser abraçado.

A ideia de que nos esquecemos, muitas vezes, de abraçar os que parecem sempre bem.

De ajudar e estar presentes na vida dos que ajudam e estão sempre presentes.

O Luís Aleluia partiu e na hora decisiva ninguém o amparou. Não houve nenhum Luís Aleluia que conseguisse travar o seu abismo, o buraco que o devorou silenciosamente.

Meu querido Luís, é difícil isto.

É difícil perceber como podemos fazer as coisas bem.

Desculpa por não termos conseguido deixar de ver o Tonecas quando mais precisavas que te víssemos a ti”.

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